Pra começar, o vídeo que contem a sinopse para o samba enredo que a Portela trará para avenida em 2023, ano do seu centenário:
Aqui, o vídeo do samba concorrente 2023 das Guerreiras (Parceria Meri de Liz):
Munidos desse material você está pronto a viajar com o Samba das Guerreiras pelos 100 anos de história da Portela!
Descrição a verso a verso do Samba das Guerreiras Presente concorrente para hino da Portela 2023.
(1) PELOS TRILHOS DO DESTINO VIAJEI
(2) CHEGUEI NO ANTIGO ENGENHO E SONHEI
(3) NA BAGAGEM O ORGULHO DA CULTURA ANCESTRAL
(4) FEZ O ALICERCE DO MEU FEITO IMORTAL
(1) (2) (3) Os três primeiros versos informam a chegada de Paulo “na localidade há pouco conhecida como Oswaldo Cruz”, “antigo engenho do Senhor Miguel Gonçalves Portela” local que abrigaria “algo perene e imortal” “que ultrapassaria fronteiras” e a sua bagagem afro diaspórica de conhecimentos que trazia a partir da sua vivência na região central da capital federal do Brasil. Além disso, a metáfora do trem e seus trilhos, de uso tão frequente na sabedoria popular, dá a noção dos caminhos construídos e planejados.
(4 ) E o que Paulo traz? Sua bagagem da cultura ancestral, motivo de orgulho, a altivez e elegância no seu portar e vestir-se, a certeza de que todas as pessoas são iguais e a potencialização da cultura orgânica inerente aos artistas desse lugar tão distante na época. Valores que ele consegue implantar e são até hoje considerados como fundamentais na agremiação
(5) VEM TABAJARA QUE HOJE TEM FESTANÇA
(6) NO QUINTAL DE DONA ESTHER, DOCE LEMBRANÇA
(5) Nesse momento, Paulo convida a Tabajara- bateria da Portela- a tocar para a grande festa e o grande desfile dos cem anos da Majestade do samba
(6) Dona Esther, já aparece nessa estrofe, obviamente por ser o princípio, mas também a articulação inicial de Paulo nos sertões carioca. O quintal de Dona Esther foi o epicentro cultural da localidade da época, desempenhando na periferia o papel que coube à Tia Ciata no Centro do Rio de janeiro. A partir dali, o samba do subúrbio se expandiu. Paulo demonstra sua saudade e como é doce essa lembrança...
(7) BALANÇA, SAPUCAÍ!
( 8 ) PORTELA REVIVE SUA HISTÓRIA
(9) SEU CENTENÁRIO DE GLÓRIA
(10) A ÁGUIA VOOU N’ORUM INFINDO
(11) O SAMBA GANHOU DOMINOU O MUNDO E É TÃO LINDO
(12) OBRIGADO, NATAL, CAETANO E RUFINO
No infinito, passado e futuro não têm distinção, como aponta a sinopse em seus parágrafos. Lá de cima, Paulo vê que sua Portela querida, dele por toda vida e além, tornou-se gigante e a Sapucaí, algo inimaginável no seu tempo ,quando precisou batalhar para conseguir subvenções do poder público e, isso já foi um feito . Cem anos depois o carnaval preto tem um espaço pra chamar de seu!
(7) (😎 (9) Paulo, encantado com o que vê, convida a todos que estão na Sapucaí a cantar e dançar no desfile histórico que revive o centenário de glória da Portela. É uma glória fazer 100 anos;
(10) A águia voando no Orum infindo, metáfora fantástica para abranger os baluartes que habitam o espaço intangível (céu ou paraíso) e aqueles que ainda estão na lida da vida física, podendo se fazer, também, uma relação com o Espírito Santo pertencente à mitologia portelense por essa amálgama de narrativas que ela traz ao mencionar de formas diferentes o mundo real e o mundo encantado; e, sua águia, aqui na Terra a ave que voa mais alto;
(11) O SAMBA GANHOU , DOMINOU O MUNDO E É TÃO LINDO
(12) OBRIGADO, NATAL, CAETANO E RUFINO
(11) Referência ao ano de 1935 quando o enredo “O Samba Dominando o Mundo”, deu o primeiro campeonato à Portela e teve também articulação de Paulo para que o Estado subvencionasse os desfiles, a manifestação genuinamente popular das classe mais pobres. Conseguiram a “ajuda”, porém o desfile foi na Praça XI, espaço pertencente à Pequena África, desprezado pelas elites que faziam seus “desfiles na região nobre” (ranchos e grandes sociedades) do Centro, na Avenida Central (atual Rio Branco). O samba ganhou refere-se às várias vitórias embutidas nessa expressão profética de que dominaria o mundo (ganhou espaço, respeito, notoriedade e a Portela ganhou com folga: 158 pontos, dez à frente da segunda colocada, a Mangueira);
(12) Paulo agradece aos Cofundadores da Portela e também ao Natal, artífice, guardião e parte atuante da “profecia” ;
(13) LÁ VEM DODÔ GIRANDO A SAIA
(14) SETE VITÓRIAS VOU CANTAR
(15) NA PRAÇA XI, ALEGORIA
(16) VESTIU O ENREDO NUM CORTEJO À FANTASIA
Na sinopse, no segundo parágrafo a narração passa à Dona Dodô, personificando as porta bandeiras, comentando o heptacampeonato (1941/1947) feito históricos, recorde não batido por outras agremiações.
(13) (14) Paulo vislumbra e nos aponta Dona Dodô rodando a saia e, em seguida canta as vitórias do heptacampeonato;
(15) A seguir, rememora o importante cortejo de 1939 que revolucionou e redefiniu o formato dos desfiles. Pela primeira vez, na Praça XI uma escola apresenta um samba enredo (antes eram dois sambas de terreiro cantados durante o desfile) e utiliza fantasias para descrever o cortejo que ele desenvolve. É o segundo campeonato da Portela, doravante, Paulo se eternizou como “Professor”, personagem como se apresentou no desfile, pois teve a ideia do enredo – “Teste ao Samba” e de todo o seu desenvolvimento, criou a instituição samba enredo narrado por letra e através das fantasias e alegorias;
(17) VIOLINOS, NOITE TÃO BELA
(18 ) CISNE A BAILAR NA PASSARELA
(19) GLORIOSO PANTEÃO!
(20) CANDEIA SAUDADE EM NOSSO PAVILHÃO
(17) 1964 – O desfile da Portela traz um grupo de "encasacados" da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal que tocava violino à frente da bateria da escola, ilustrando o enredo "O Segundo Casamento de D. Pedro I".
Obs. Nossa parceria é composta por mulheres que atuam na música, de modo que, não poderíamos deixar escapar a ousadia da Portela no seu desfile de 1964
( 18 ) Aqui é indissociável relação da música, dança e elegância que o bailado primoroso de Vilma Nascimento e Benício personificam... Ela, o Cisne da Passarela, que como Dodô fez escola!
(19) Um louvor ao glorioso panteão portelense e também uma menção ao enredo “Brasil, panteão de glórias” ( 1959) com samba de Casquinha, Bubu, candeia, Waldir 59 e Picolino.
(20) No último verso dessa estrofe, o fundamental Candeia se torna um verbo de saudade, da falta desse grande compositor em nosso pavilhão e articulador, ícone da negritude.
(21) AH, OUÇA O RUFAR DAS TROVOADAS.
(22) MACUNAÍMA PELAS MATAS
(23) LENDAS E MISTÉRIOS, QUANTA EMOÇÃO!
Nesses versos começamos a fundir a alternância mística existente na sinopse entre Céu e Terra e seus representantes através da misticidade que evocaram e da qual se tornaram representatividades.
(21) Trovoadas como metáfora de Clara Nunes, já cantada dessa forma pela Portela em “Contos de Areia” e também o eco dos tambores de Mestre Betinho - é o toque de Oxosse/São Sebastião, padroeiro da Tabajara do Samba! Paulo da Portela sinaliza para que ouçamos o rufar das trovoadas do canto de Clara e da regência de Mestre Betinho (muito reverenciado pelo toque dos surdos portelenses) que seguem ecoando pelo mundo;
(22) Seguindo a narrativa sobre os desfiles antológicos/históricos pela qual optamos na construção da letra, está a menção ao Macunaíma (1975), que segundo a sinopse marca a despedida de Natal que finaliza sua missão, bem como, uma evocação a Oxosse, Orixá das matas e menção ao seu compositor , David Corrêa, que sabia como poucos metaforizar a Portela colocando-a no patamar das forças da natureza;
(23) “Lendas e mistérios da Amazônia” ,enredo inesquecível campeão de 1970 que na época rendeu muita festa em Oswaldo Cruz e Madureira e até hoje emociona os portelenses
(24) EXISTE SIM, UM CÉU NA TERRA·.
(25) ONDE O AZUL NÃO SE DESFAZ
(26) E NEM O BRANCO SE OMITE
(27) PRA ESSE AMOR NÃO HÁ LIMITE
Nessa estrofe, uma afirmativa e a certeza absoluta de que a Portela é um pedacinho do Céu na Terra! O azul que vem do infinito e toda a sua energia se materializa ali, onde o branco da paz não se omite ( uma menção a Dedé e “a pombinha da paz”) e a homenagem ao maior dos legados de Paulo, Natal e Rufino: O amor sem limite do portelense à sua agremiação e ao samba por extensão.
(28 ) SOU PORTELA! É AZUL MEU CORAÇÃO
(29) SAGRADO É NOSSO MANTO
(30) DÁ FORÇA AO NEGRO CANTO
(31) MAIS UMA ESTRELA... É MONARCO NO INFINITO
(32) SER PORTELENSE É O LEGADO MAIS BONITO
Cem anos é um marco histórico, atingido da forma como está sendo devido ao abraçar da missão por todos os portelenses baluartes históricos e também os que compõem a comunidade da águia altaneira;
(28 ) Apropriação da missão de ser Portela, pertencimento do sentimento que faz dizer “sou Portela” antes ante se dizer portelense. O Portelense se coloca na missão da sua escola, segue os valores de Paulo e sua tradição de elegância, “pés e pescoço ocupados” e tanto mais... O portelense é a Portela!
(29) manto azul e branco é a camisa portelense? Sim, mas é também a metáfora do manto de Nossa Senhora da Conceição a quem a Portela foi consagrada, que a protege e a cada portelense,
(30) fortalecendo o negro canto originário de África e Oxum.
(31) Mestre Monarco se torna entidade a vibrar pela juventude e todos que abraçam essa missão da forma como lhes cabe e sabemos; ele está lá no infinito, mais azul que nunca, em brilho estelar e na busca de mais uma estrela para o pavilhão portelense.
(32) SER PORTELENSE É O LEGADO MAIS BONITO
resume e homenageia a todos eles e a cada um de nós que estamos aqui na luta que essa missão exige.
NOTAS.:
*A voz que narra a letra do nosso samba é a de Paulo Benjamin de Oliveira, que do Orum (céu ou paraíso na versão cristã) olha para nós aqui na terra, examina o resultado da instituição que fundou com Antônio Caetano e Antônio Rufino, revisitando seu legado. Assim temos, Paulo lá do Orum olhando sua construção, ora centenária e a “missão”, presente em todos os parágrafos da sinopse, a cada momento, em vozes alternadas das personagens, agora, históricas. Outra coisa que não dava pra não ver na sinopse era a comparação entre Terra e Céu, concreto e etéreo. Os feitos levados a uma dimensão onde a luz ocupa o lugar do material como, por exemplo, cetim e isopor - o espiritual atravessando o século vivido num evento sagradamente profano que a Portela emblematiza com perfeição devido a sua mitologia composta pelas cores celestiais, suas figuras históricas e elementos religiosos.
**Já na cabeça do samba quisemos mostrar a força do Paulo, a inteligência emocional e a sua sensibilidade ao perceber os variados contextos de vida dos locais onde frequentava. Paulo da Portela tinha “olhos de ver” (Jurema Werneck). Era um embaixador da causa dos seus, um sonhador-realizador. Um visionário que punha a mão na massa, um homem à frente do seu tempo. Um homem que valorizava a mulher e entendia o quanto ela era importante para a cultura popular e o samba.
Série: Crônica de Domingo
Crônica do meu samba
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